No Rio Grande do Sul, a deputada federal Manuela D'Ávila é considerada um fenômeno eleitoral. Integrante do PCdoB, partido que é rejeitado por uma parcela significativa da população e sobre o qual se construíram visões pouco elogiosas, ela foi recordista de votos para a Câmara dos Deputados no Estado nas eleições de 2006.
Escolhida por 271.939 eleitores, Manuela deixou para trás nomes com uma carreira política consolidada em todos os demais partidos. Aos 25 anos, ela chegou à Câmara Federal diretamente de um mandato na Câmara Municipal de Porto Alegre, sem passar pela Assembleia Legislativa.
Nas eleições municipais de 2008, Manuela, encabeçando uma chapa composta ainda pelo PSB, o PPS e os nanicos PTN, PMN, PTdoB e PR, disputou a prefeitura de Porto Alegre. Não chegou ao segundo turno, mas assustou os dois principais candidatos: a deputada federal Maria do Rosário (PT) e o hoje pré-candidato ao governo do Estado pelo PMDB, José Fogaça, que venceu aquela eleição.
As votações de Manuela e sua capacidade de diálogo com partidos de diferentes matizes ideológicos fizeram com que parte do PT gaúcho sonhasse com seu nome na chapa majoritária das eleições no Estado em 2010. A pretensão esbarrou em um impedimento constitucional: de que os candidatos a governador e vice tenham no mínimo 30 anos e, os postulantes ao Senado, 35.
Alianças
Manuela completará 30 anos em 2011. E não deverá acompanhar os petistas no primeiro turno da eleição estadual. O PCdoB do Rio Grande do Sul fechou apoio à pré-candidatura de Dilma Rousseff (PT) à presidência da República. Mas, na última sexta-feira (7), o PCdoB decidiu que, no Estado, vão apostar na pré-candidatura do deputado federal Beto Albuquerque (PSB) ao governo. Beto ainda precisa agregar outras siglas para consolidar a candidatura: ou vários nanicos ou um partido grande, como o PP ou o PTB.
No Rio Grande do Sul, o PTB lançou um pré-candidato, o deputado estadual Luis Augusto Lara, e fechou coligação com o DEM. As investigações sobre a morte do ex-secretário de Saúde de Porto Alegre, o petebista Eliseu Santos, assassinado em fevereiro deste ano, porém, não têm ajudado o desempenho da sigla. E o PTB já começa a ter de desmentir boatos de que a pré-candidatura ao governo será retirada.
Mais do que fortalecer a candidatura de Beto, a decisão do PCdoB consolida a formação do segundo palanque de Dilma no Rio Grande do Sul. Só que deixa mais isolada a pré-candidatura de Tarso Genro (PT) ao governo estadual. Os petistas pretendiam reeditar a antiga Frente Popular que, no passado, reuniu em eleições PT, PSB e PCdoB.
Sobre o apoio ao PSB e as chances de palanque da petista Dilma Rousseff no Estado gaúcho, a deputada federal Manuela D'Ávila concedeu a seguinte entrevista ao
Terra:
Terra: Por que o PCdoB decidiu reafirmar seu apoio à pré-candidatura de Beto Albuquerque (PSB) neste momento?
Manuela: Estamos construindo a candidatura do Beto há mais de um ano. Porque acreditamos no projeto, que é um projeto de reinserção do Rio Grande do Sul em um projeto de país.
Terra: Não havia uma tendência do PCdoB em apoiar a pré-candidatura de Tarso Genro (PT)?
Manuela: Na verdade o que aconteceu foi que pessoas de fora do PCdoB passaram a deduzir que a candidatura do PSB seria inviável. O que o PCdoB decidiu foi que daria palanque para Dilma Rousseff no Estado. O quadro eleitoral é um tabuleiro de xadrez. E, nele, há dois fatos que reforçam nossa posição: o primeiro é a ideia do Beto de manter a candidatura e o segundo é que PSB e PCdoB estão juntos no palanque da Dilma.
Terra: A aliança PSB/PCdoB pode comportar o PP?
Manuela: O PP tem os seus diálogos para fazer. Eles já estão participando de conversas com a ex-ministra Dilma. O que nós queremos é estabelecer o nosso tempo. E o nosso tempo (PSB/PCdoB) é 20 de maio. Definimos este prazo para fecharmos nossa chapa aqui no Estado. Se o PP vier a apoiar o PSB, será um elemento novo, e aí haverá vários aspectos a serem analisados.
Terra: O apoio do PCdoB ao PSB está relacionado às negociações nacionais entre PT e PSB que ocorrem após a retirada do nome de Ciro Gomes (PSB) da disputa à presidência da República, e que incluem o reforço de candidaturas socialistas em alguns estados?
Manuela: Esta informação do PSB e do Ciro não tem nada a ver com o PCdoB. Existem três relações distintas. Mas essa triangulação não fecha, porque não há espaço para ela. Não há como pensar que o PCdoB toma uma decisão no Rio Grande do Sul em função de conversas do PT com o PSB. Nossa relação é autônoma e desde sempre falamos na candidatura do Beto. Depois, que estávamos com a Dilma. E o PSB também estará.
Terra: Mas o fortalecimento da candidatura socialista no Rio Grande do Sul resulta em um segundo palanque para Dilma no Estado, uma vez que o PMDB ameaça não dar espaço para a candidatura presidencial petista.
Manuela: Do ponto de vista de palanque, a Dilma está melhor situada no Rio Grande do Sul. Estamos empenhados na construção do palanque dela. Além do nosso, ela tem um palanque muito bom, consolidado, que o palanque do Tarso Genro. O que estamos discutindo já é a construção do terceiro e do quarto palanques, que podem ser os do PMDB e do PTB.
Terra: O PTB está aliado ao DEM, que apoia Serra.
Manuela: Estou falando do PTB especificamente. No Rio Grande do Sul quem está mais preocupado com palanque é o Serra, que foge de seu palanque regional, que é o da candidatura do PSDB. O Serra veio nesta semana ao Estado e fugiu da governadora (Yeda Crusius, do PSDB, pré-candidata à reeleição).
Terra: Existe a possibilidade de o PCdoB ainda alterar sua posição no Rio Grande do Sul e, quando chegar à convenção, decidir pelo apoio à candidatura do PT ao governo do Estado?
Manuela: Eu acho muito difícil.