Quando Fernando Henrique Cardoso assumiu a Presidência da República em 1995, o então Ministro das Comunicações, Sérgio Motta, disse que os tucanos iniciavam um reinado que deveria durar pelo menos 30 anos. Com a derrota de José Serra para Lula em 2002 o sonho foi abreviado por 22 anos.
Se a campanha dos candidatos a presidente pode mudar de acordo com os adversários e as circunstancias de cada eleição, os bons governantes se fazem sempre da mesma maneira. Cabe-lhes demonstrar firmeza para demonstrar prioridades e competência para reunir aliados que permitam fazer avançar suas propostas. Acho que Lula aprendeu bem essa lição, ficou esperto e hoje dá aula desse assunto.
Em 2002, vitorioso numa campanha histórica, que pela primeira vez colocou em palácio um candidato de origem operária, líder e fundador de um partido de esquerda, independente dos esquemas tradicionais de poder no Brasil, o presidente Lula definiu seu governo pela capacidade de arrumar a economia e botar o país na rota do desenvolvimento. Lula foi eleito de forma consagradora, com maioria em todos os segmentos do eleitorado: região, renda, educação, gênero. Uma vantagem inédita na história das eleições brasileiras. Lula recebeu o voto firme de um país exausto pela economia parada, empobrecido com o desemprego em alta, inconformado com as desigualdades.
Há quem insista em encarar a ascensão de Lula como um acidente antropológico, mas a verdade é que em uma das mais longas e democráticas campanhas da história, a apuração mostrou que em 2002 se assistiu ao desfile de uma unanimidade. A liderança de Lula em nenhum momento foi ameaçada, e se disputa houve, era apenas pelo segundo lugar.
O Brasil naquele momento era pró-Lula em suas camadas profundas, animadas por um vigoroso movimento “Fora FHC”. Foram milhões de brasileiros que riram das alianças partidárias que transformaram a “verticalização” em piada. Lula não ganhou no primeiro turno mas passou o segundo turno sem que o eleitorado tivesse ânimo de ouvir o que o adversário José Serra tinha a dizer.
Os últimos dias dessa campanha produziram cenas pitorescas. No Ceará o candidato tucano ao governo do estado disputava com o concorrente petista a condição de aliado de Lula. Na Paraíba, onde não havia nem tucanos nem petistas, os dois adversários apoiaram Lula. Assim também foi no Paraná. Em São Paulo o tucano Geraldo Alckmin pedia votos para o Palácio dos Bandeirantes, mas não indicava seu candidato ao Planalto. Lula ainda foi auxiliado por uma opinião pública indignada e vigorosa, que submeteu a maquina pública a um grau inédito de vigilância, impedindo qualquer ato que pudesse beneficiar o candidato do governo, até medidas justificáveis foram adiadas porque poderiam ser vistas como auxílio indevido. O mesmo não acontece com Dilma Roussef agora.
A mais importante missão do empresário José Alencar foi cumprida antes da vitória. Ao vice-presidente coube a prova de que o ex. sindicalista Lula havia mudado, seria capaz de negociar além dos limites dos partidos de esquerda e já não mais assustava os empresários.
Na pele de Lulinha paz e amor, personagem sem contradições e sem conflitos, o presidente ganhou a eleição pronunciando declarações simpáticas na forma e evasivas pelo conteúdo. O programa de governo apresentado tinha dois pontos: “vamos negociar” e “vamos discutir”. Tudo indica que a receita deu certo.
Em 2006 Lula derrotou o tucano “Alckmin” que no meio da campanha virou “Geraldo” tentando agradar o povão e sequer se deu ao trabalho de aparecer nos debates televisivos. Quanto ao mensalão e regra era dizer sempre: “não vi nada”. Deu certo mais uma vez e o presidente conta hoje com o apoio de mais de 80% da população. Um índice de aprovação tão surpreendente que chega a ser perigoso a ponto de transformar a eleição em uma mera aclamação desprovida de qualquer debate político.
Para as eleições de 2010 o Planalto tenta a qualquer custo desestimular outras candidaturas e impor a polarização entre Dilma e Serra, para que o povo julgue apenas os 8 anos de FHC e os 8 anos de Lula, o Brasil do passado e o Brasil do presente. Mas aí fica uma pergunta: quem vai debater o Brasil do futuro?
O PT tem ao seu lado o PMDB. Esse já está no poder a mais de 30 anos, nunca deixou de estar no poder, seja qual fosse o governo. Mas não pretendo fazer aqui uma critica. Acho que não poderia ser diferente, um gigante como o PMDB não poderia fazer oposição a nenhum governo, seria um caos do ponto de vista de governabilidade. Com o maior número de deputados federais, senadores, governadores, deputados estaduais, prefeitos e vereadores o PMDB é também o que mais tem cargos no Governo Lula. Só ministérios são seis, o que leva o PMDB a administrar 53% do orçamento da união.
Ciro Gomes, por exemplo, que mudou seu domicilio eleitoral para o estado de São Paulo, ao mesmo tempo em que seu irmão o governador do Ceará Cid Gomes e o presidente nacional do PSB, governador Eduardo Campos, vem recebendo pressões pela desistência de Ciro a Presidência da República. José Dirceu, que nunca saiu de cena, tem viajado o Brasil desconstruindo todas as investidas do PSB e incumbido da missão de fazer o alçapão se abrir sobre os pés de Ciro Gomes para que ele saia de uma vez por todas da cena política. Tarefa que só pode ser cumprida por alguém extremamente frio e com habilidade, para que não haja traumas, dores, muito menos desgaste político.
E a Senadora Marina Silva?
Marina é uma militante histórica do PT, hoje no PV, uma das maiores autoridades mundiais quando o assunto é meio ambiente e pode dar contribuições fantásticas no debate nacional sobre, por exemplo, a polêmica das licenças ambientais e sobre a preservação da Amazônia. Tentar silenciá-la é um atentado grave a democracia.
Não vejo problemas no PT ficar no poder por 30 anos. Por mim, pode ficar até por mais tempo desde que apresente um projeto para o Brasil dos próximos 30 anos e discuta ele com a sociedade e com os adversários políticos em um debate civilizado e democrático digno da nação brasileira que o presidente Lula ajudou a construir.
Quem chegou ao Planalto em uma eleição democrática, o que muitos militantes do PT achavam que só seria possível pegando em armas, e agora acha que deve lá permanecer por 30 anos deve apresentar suas razões através de um projeto debatido amplamente e abertamente.
Se assim não for. Podemos afirmar com segurança: o PT gostou do poder. E agora, como os outros, passou a ambicionar o poder apenas pelo poder.
Wellington Silveira
Secretário de Juventude - JSB/MG
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